Allan Douglas Pietri – Genealogista, Pesquisador e Associado APHV / Bryan Gouveia – Graduando em Administração Pública, Pesquisador e Associado APHV
O majestoso edifício de arquitetura peculiar, localizado na esquina da Rua José Milani com a Rua 13 de Maio, abriga atualmente o Fundo Social de Solidariedade, onde o famoso vitral¹ do plenarinho pode ser encontrado. No entanto, essa construção desempenhou um papel histórico de grande importância, sendo originalmente a primeira sede da Prefeitura de Valinhos e, posteriormente, servindo como sede da Câmara de Vereadores da cidade.
A casa foi originalmente construída por Samuel Fragoso Coimbra, como afirma a historiografia local, que era fiscal da prefeitura de Campinas antes da emancipação de Valinhos em 1953. Planejado com luxo, o edifício destinava-se a abrigar um cassino. No entanto, com a proibição dos jogos de azar no Brasil em 1941, por meio da Lei de Contravenções Penais (Decreto-Lei 3.688/1941) estabelecida por Getúlio Vargas, o proprietário passou a residir no local [1]. Embora o nome de Samuel Fragoso não esteja registrado no cadastro do imóvel situado na Prefeitura de Valinhos, de acordo com a historiografia e diversos relatos de moradores antigos, é afirmado que ele construiu e vendeu o prédio. No entanto, o cadastro do imóvel lista apenas o nome de sua filha, Norma Cardo Fragoso Coimbra, com a observação “outros” (a planta do imóvel se encontra para consulta no arquivo da Câmara Municipal de Valinhos).
De acordo com o livro “Os 100 destaques de Valinhos deste século” de José Spadaccia, Samuel Fragoso Coimbra chegou a Valinhos no início da década de 1940, vindo de Campinas, indicado para exercer o cargo de fiscal municipal, designado pelo prefeito de Campinas. Ele permaneceu nesse cargo até a emancipação do Distrito de Valinhos e sua primeira eleição em 1954. Samuel Fragoso também teria sido o responsável por construir a casa que se tornaria a sede do poder executivo e legislativo de Valinhos, localizada no Largo da Matriz, palco mais tarde de diversas disputas3 entre os grupos conhecidos como “paragatas” e “gravatinhas ” [2].
Com a emancipação de Valinhos e a posse do primeiro prefeito e dos 13 vereadores em 1º de janeiro de 1955, o imóvel foi inicialmente alugado por Cr$ 12.000,00 mensais [3] e posteriormente desapropriado por Cr$ 1.800.000,00 (conforme a Lei nº 90/56) para ser a primeira sede da Prefeitura de Valinhos até a inauguração do Palácio da Independência em 7 de setembro de 1966, localizado na Rua Antônio Carlos, 301. O Professor Mario Pires, em seu livro “Valinhos Tempo e Espaço“, menciona que Samuel Fragoso era correligionário do então prefeito eleito Jerônimo Alves Corrêa ² e não se opôs à instalação da sede do governo municipal em seu imóvel [1].
Com a transferência do Paço Municipal para o novo prédio em 1966, o imóvel passou a sediar apenas a Câmara de Vereadores de Valinhos [3], que funcionou no local até a inauguração do atual prédio em 15 de dezembro de 2012, localizado na Rua Ângelo Antônio Schiavinato, 59.
Após deixar de abrigar a Câmara de Vereadores, o imóvel passou a abrigar o Fundo Social de Solidariedade de Valinhos, um departamento de caráter humanitário e emergencial, vinculado ao gabinete do executivo municipal. Sua finalidade é prestar assistência às entidades assistenciais registradas na Secretaria Municipal de Assistência Social, bem como às entidades privadas que se dedicam a atividades educacionais e médico-hospitalares. Além disso, o Fundo Social de Solidariedade tem como objetivo auxiliar na mobilização de recursos sociais para a comunidade e fornecer apoio à Defesa Civil.
O antigo prédio da Câmara Municipal e Prefeitura de Valinhos possui uma arquitetura peculiar, com as cores branca e azul, que chama a atenção dos moradores e visitantes. Ao longo dos anos, testemunhou momentos marcantes, como a entrega do título de Cidadão Honorário [20] a Flávio de Carvalho em 1970 e seu velório em 1973 [21].
Embora não seja mais o local onde as decisões políticas e administrativas são tomadas, o edifício preserva a memória do passado e reflete a evolução de Valinhos como município independente. A adaptação do espaço para abrigar o Fundo Social de Solidariedade reforça o compromisso da cidade em promover ações de solidariedade e apoio àqueles que mais precisam.
É importante valorizar e preservar esses patrimônios históricos, que contam histórias e representam marcos importantes na trajetória de uma comunidade. O antigo prédio da Câmara Municipal e Prefeitura de Valinhos é um exemplo vivo dessa importância, mostrando como uma estrutura arquitetônica pode se transformar ao longo do tempo, adaptando-se às necessidades e demandas da sociedade.
Ao visitar o Fundo Social de Solidariedade de Valinhos, é possível não apenas contribuir para ações solidárias, mas também contemplar a beleza e a história desse antigo prédio, que guarda em suas paredes as lembranças de uma época passada e o compromisso contínuo de auxiliar aqueles que mais necessitam.
Em suma, o antigo prédio da Câmara Municipal e Prefeitura de Valinhos é muito mais do que uma simples construção. Ele representa a evolução da cidade, testemunha importantes momentos políticos e, atualmente, desempenha um papel relevante como sede do Fundo Social de Solidariedade. Por fim, convidamos você a explorar agora algumas fotografias do antigo prédio da Câmara Municipal de Valinhos, um mergulho visual no passado rico e significativo desse importante patrimônio histórico.
Samuel Fragoso Coimbra nasceu à meia-noite do dia 22 de junho de 1894, uma sexta-feira, no prédio localizado em Rua Ferreira Penteado, 94 em Campinas, filho de João Pedro Coimbra e Maria Magdalena Fragoso, os avós paternos se chamavam José Rodrigues Coimbra e Joaquina Lima Coimbra, e os maternos Samuel Fragoso e Maria Eugenia Fragoso [8].
Fora batizado no dia 08 de julho de 1894 na Matriz da Conceição [12], tendo sido padrinhos José Ferreira d’Andrade e D’ Maria Eugenia d’Oliveira, seu registro civil, contudo, ocorreu apenas 16 anos mais tarde em 05 de fevereiro de 1910 [8].
Seus pais eram João Pedro Coimbra, originário do Maranhão, negociante, e Maria Magdalena Fragoso, casados em Campinas na data de 21 de junho de 1890 [14], dessa união se conhecem 7 filhos: Joaquina, Samuel, Maria Eugenia, Paulo, Affonso Celso, Jorge, e João sendo Samuel o filho secundogênito.
É interessante notar que dois de seus filhos Maria Eugenia e Paulo, foram batizados em Minas Gerais, o que sugere que a família tenha morado ali entre os anos de 1902 [14] até mais ou menos 1907, sabe-se que nesta data já haviam voltado à Campinas.
Samuel se casou em primeiras núpcias com Lydia Lazzarin na cidade de Capivari, na data de 19 de março de 1919 [9], da união nasceu uma filha chamada Magdalena Lazzarin Fragoso Coimbra em 29 de março de 1920.
Na década de 20, Samuel ficou viúvo, e se casou em segundas núpcias com Norma Natalina Cardo [11] por volta de 1927, Norma assim como Samuel, também era viúva, desta união conhecemos quatro filhos: Norma Cardo, Samuel Fragoso Filho, João Pedro Coimbra Neto e Maria Eugenia Fragoso Coimbra Alvim. Samuel, faleceu em Campinas aos 65 anos, na data de 29 de outubro de 1959, em seu óbito é citado como funcionário público aposentado [10].
NOTAS
¹ Durante vários anos, a Câmara Municipal de Valinhos operou em seu antigo prédio localizado na Rua José Milani. O majestoso edifício, construído por Samuel Fragoso Coimbra, sofreu algumas adaptações ao longo dos anos. No entanto, foi somente em 2002 que uma abrangente reforma foi empreendida, resultando na instalação do famoso vitral no plenarinho, um incrível painel com temas da cidade, confeccionado pela renomada empresa Geukas. O projeto original do vitral está atualmente disponível para consulta no arquivo da Câmara Municipal de Valinhos [17]. Esta mesma empresa foi responsável pela criação dos vitrais do Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida [18].
² Jerônimo Alves Corrêa foi o primeiro prefeito de Valinhos, exercendo seu mandato de 1.955 a 1.958. Posteriormente foi reeleito para o mandato de 1.963 a 1.966. Dentre as inúmeras obras, construiu o palácio independência, prédio que hoje abriga a Prefeitura Municipal. Foram seus Vice-Prefeitos: Anésio Capovilla e Antonio Mamoni. Jerônio Alves Corrêa faleceu em 19 de maio de 1985 [4].
3 No livro “Relembranças da História de Valinhos“, José Spadaccia traz à tona uma série de relatos que evidenciam a presença de violência política dentro da antiga Câmara de Vereadores entre os grupos denominados “paragatas” e “gravatinhas“. Entre os conflitos descritos, destaca-se um incidente particularmente impactante, descrito da seguinte forma: “…num atrito com o então vereador J. A. Corrêa, o meu irmão Fernando, que era considerado o mais calmo e apaziguador de todos os vereadores, levou uma mesada na cabeça desferida pelo Jerónimo.”. [7]
REFERÊNCIAS
[1] PIRES, Mário. Valinhos: tempo e espaço. Campinas-SP: Academia Campinense de Letras, 1978.
[2] SPADACCIA, José. Os 100 destaques de Valinhos deste século. Valinhos: Do Autor, 1988.
[3] Associação de Preservação Histórica de Valinhos. AS 14 MARAVILHAS DE VALINHOS: PRÉDIO DA ANTIGA CÂMARA MUNICIPAL (PRIMEIRA PREFEITURA) – 199 VOTOS. Disponível em: https://www.historiavalinhos.com.br/14maravilhas. Acesso em: 01 jun. 2023.
[4] CÂMARA MUNICIPAL DE VALINHOS. Galeria de Prefeitos. Disponível em: https://www.camaravalinhos.sp.gov.br/?module=galeriaprefeitos. Acesso em: 01 jun. 2023.
[5] CORREIO PAULISTANO. Transferencia de Fiscaes de Bairros. Correio Paulistano, São Paulo, p. 7, 30 de outubro de 1940.
[6] Acervo pessoal de João Carlos Coimbra.
[7] SPADACCIA, José. Relembranças da História de Valinhos. Valinhos: Do Autor, 1990.
[8] “Brasil, São Paulo, Registro Civil, 1925-1995”, database, FamilySearch(ark:/61903/1:1:6VNP-XGG2 : Mon Dec 19 20:06:42 UTC 2022), Entry for Augusto de Oliveira Santos and Samuel, 22 de junho de 1894.
[9] “Brasil, São Paulo, Registros da Igreja Católica, 1640-2012,” database with images, FamilySearch (https://familysearch.org/ark:/61903/3:1:939N-F63P-HN?cc=2177299&wc=M5VW-PTR%3A372130801%2C371871702%2C372299001 : 22 May 2014), Capivari > São João Batista > Matrimônios 1916, Maio-1921, Jan > image 55 of 88; Paróquias Católicas, São Paulo (Catholic Church parishes, São Paulo).
[10] “Brasil, São Paulo, Registro Civil, 1925-1995”, database, FamilySearch (ark:/61903/1:1:6XZK-TK66 : Fri Jun 30 08:53:37 UTC 2023), Entry for Samuel Frazoso Comibra and João Pedro Comibra, 29 Oct 1959.
[11] “Brasil, São Paulo, Registros da Igreja Católica, 1640-2012”, database with images, FamilySearch (https://www.familysearch.org/ark:/61903/1:1:6NBR-T6PH : 16 September 2022), Norma o Fragoso, 1932.
[12] “Brasil, São Paulo, Registros da Igreja Católica, 1640-2012,” database with images, FamilySearch (https://familysearch.org/ark:/61903/3:1:939F-HHWS-T?cc=2177299&wc=M5J9-FMQ%3A371872201%2C371868902%2C372583101 : 15 December 2021), Campinas > Nossa Senhora da Conceição > Batismos 1894, Jun-Out > image 17 of 52; Paróquias Católicas, São Paulo (Catholic Church parishes, São Paulo).
[13] “Brasil Casamentos, 1730-1955”, database, FamilySearch (https://familysearch.org/ark:/61903/1:1:XNPL-LSY : 31 January 2020), Joao Pedro Coimbra, 1890.
[14] “Brasil, Minas Gerais, Registros da Igreja Católica, 1706-1999”, database with images, FamilySearch (https://www.familysearch.org/ark:/61903/1:1:66R3-SSKH : 23 February 2022), Maria Eugenia, 2 de dezembro de 1902.
[15] VALINHOS. DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO – PREFEITURA DE VALINHOS. . Fundo Social abre inscrições em outubro para Campanha Natal Mais Solidário. 2021. Disponível em: https://www.valinhos.sp.gov.br/portal/noticias/0/3/50641/fundo-social-abre-inscricoes-em-outubro-para-campanhanatalmais-solidario. Acesso em: 07 jul. 2023.
[16] Acervo pessoal de Ulisses do Porto Salvador.
[17] JORNAL DE VALINHOS. Novo plenário da Câmara deve estar pronto em outubro. Jornal de Valinhos, Valinhos, 11 out. 2002.
[18] VITRAIS GEUKAS. Aparecida. Disponível em: https://www.vitraisgeukas.com.br/vitrais/aparecida. Acesso em: 27 jul. 2023.
[19] Acervo Fotográfico da Câmara Municipal de Valinhos.
[20] O LEGISLATIVO VALINHENSE 50 ANOS DE HISTÓRIA. Valinhos: Ar2 Comunicação & Eventos, 2005.
[21] STEVOLO, Pedro Luiz. A casa modernista de Flávio de Carvalho: arte, política e um território em disputa?. Revista CPC, n. 22, p. 10-36, 2016.