Valinhos, 12/10/2020
A Associação de Preservação Histórica de Valinhos (APHV) foi fundada em 2014 e é uma entidade particular sem fins lucrativos que tem como missão contribuir para a preservação da história local, memória e identidade da cidade de Valinhos, desenvolvendo atividades sociais e educacionais, de pesquisa e filantropia, através de exposições de longa duração, temporárias e itinerantes. As atividades são desenvolvidas para a comunidade em geral, podendo relacionar-se com colecionadores, entidades de classes e até órgãos governamentais de preservação do patrimônio histórico, arquitetônico e cultural, tais como, o CONDEPHAAT/SP, IPHAN e IBRAN. A APHV vem, mui respeitosamente, encaminhar esta carta aberta aos Candidatos a Prefeito com a finalidade de expor alguns estudos, recomendações e propostas pertinentes a trabalhos que possam ser executados e outros que devem e necessitam ter sua continuidade nos anos seguintes após as eleições. Diante disto, enumeramos abaixo os assuntos relacionados:
1) Estudo de viabilidade e implantação do Arquivo Histórico Municipal. Este local poderá ser um agregado do Arquivo Municipal já existente, podendo ser criada uma autarquia ou uma entidade particular. A APHV e membros do Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Cultural de Valinhos (CONDEPAV) já realizaram uma visita ao Arquivo Público e Histórico de Rio Claro “Oscar de Arruda Penteado”. O objetivo foi de conhecer as instalações e trabalhos desta autarquia que vem cumprindo um papel importante na guarda da história local e que desde 2009 vem se preocupando de forma mais sistemática na democratização do acervo. Para a APHV, que atua na pesquisa, divulgação e preservação da história de Valinhos, a cada dia vem se preocupando intensamente com a preservação dos documentos, peças e obras de artes que existem na cidade, tanto no acervo particular quanto no acervo municipal. Existe a necessidade, urgente, para uma política de condução dos mais diversos documentos e objetos históricos, sua temporalidade, arquivamento, disponibilidade para pesquisa e, o mais importante, ajudar nos trabalhos que já estão em andamento na cidade e que são desenvolvidos pela APHV. Vários são os acervos na cidade que requerem um local apropriado para armazenamento e divulgação, um exemplo é o acervo iconográfico do fotógrafo Haroldo Pazinatto que se encontra com a família. Existe a necessidade da perpetuidade e de criar uma via de fácil acesso para pesquisadores e estudantes.
2) Contratação de um museólogo para o Museu Municipal de Valinhos ou, através da APHV e da parceria ou convênio que possa existir, contratar mão de obra ou consultoria especializada na área museal para atuar em locais deste setor que serão previamente selecionados. O Museu Municipal de Valinhos existe há aproximadamente duas décadas e em seu quadro de funcionários, nunca foi realizada a contratação de um museólogo.
3) Estudar a viabilidade, desenvolvimento e implantação de três novos locais que estarão relacionados às áreas culturais, museais e de exposições permanentes e itinerantes. A Associação de Preservação Histórica de Valinhos (APHV) se dispõe a ser uma parceira no desenvolvimento e dar sugestões, além de possibilitar uma possível contratação de mão de obra especializada para atuar nestes setores. Abaixo, encontra-se, como sugestão, um pré-estudo destes possíveis locais que foram desenvolvidos através de uma análise realizada entre os associados da APHV junto de profissionais da área de história e preservação do patrimônio, em vista dos anseios e percepções observados na cidade. Esses três locais também formariam um eixo cultural que poderia fomentar o setor cultural e de turismo. São eles:
Museu das Artes Flávio de Carvalho: localizado na antiga Casa Modernista do artista, este local abrigaria não só os materiais, obras e peças que retratam a vida de Flávio Rezende de Carvalho, mas sim, o que é produzido de artes nas suas mais diversas formas em Valinhos. Este local poderia concentrar as produções dos artistas de Valinhos e ser divulgado através de exposições periódicas e/ou permanentes. Diversos artistas, intelectuais, estudantes e historiadores do mundo inteiro já visitaram e ainda visitam a casa, isso enaltece sua importância e o quanto poderia agregar e fomentar o turismo, além de ajudar o artista local. Em tempo, vale lembrar que a transformação da Casa Modernista em Museu já foi uma promessa de antigos governos em contra partida do enterro de Flávio de Carvalho na cidade de Valinhos.
Espaço Expositivo José Milani 15: o espaço seria localizado no prédio da primeira Prefeitura de Valinhos (pós emancipação) e Câmara Municipal de Valinhos. O nome foi apenas uma sugestão neste primeiro momento. Neste local, poderia ser explorado detalhes da história política do município e da emancipação com Campinas. A casa foi edificada por Samuel Fragoso Coimbra, que era fiscal da prefeitura de Campinas antes da emancipação de Valinhos em 1953. Construída com luxo, destinava-se à instalação de um cassino mas com a proibição dos jogos, o proprietário passou a residir no local. Com a emancipação, o imóvel foi inicialmente alugado e depois comprado para ser a primeira Prefeitura de Valinhos até a inauguração do Palácio da Independência, quando passou a ser de uso do Poder Legislativo. O antigo plenário também poderia servir para exposições temáticas e as diversas salas existentes para serem utilizadas pela área da cultura. Também poderia ser criado um Centro de Informações Turísticas de Valinhos (CITV).
Museu Municipal “Fotógrafo Haroldo Ângelo Pazinatto”: o Museu Municipal foi concebido em 1996 e neste local, até os dias atuais, vem representando através de exposições permanentes, um retrato de itens e objetos da vida cotidiana que pertenceram a população Valinhense durante o século XX. Além disso, o local também abriga a sala da Fotografia Analógica Preto e Branco (PB), visto que Valinhos também é uma cidade tradicional no ramo fotográfico. Como sugestão, estudar a viabilidade da criação de novas exposições temáticas itinerantes ou permanentes relacionadas à Ferrovia, Escravidão e Imigração, assim como a Indústria e o Comércio, visto que ao lado da estação estão localizadas as indústrias que são consideradas a célula mater da urbanização da cidade.
4) Estudo de viabilidade e implantação dos “Totens Históricos e Turísticos” na cidade com o objetivo de contar a história de cada monumento cultural. No ano de 2019, a APHV desenvolveu o projeto dos Totens Históricos com o objetivo de implantá-los em pontos turísticos da cidade. Este projeto está em concordância com o projeto das ‘14 Maravilhas de Valinhos’, que também teve como objetivo envolver a sociedade no conhecimento e valorização do patrimônio de relevância histórica. Durante a 23ª reunião plenária ordinária do CONDEPAV, foi apresentado o primeiro esboço do totem. Quanto a recurso, poderia ser viabilizado através de recursos federais como, por exemplo, o ministério do Turismo, via patrocinadores, doações particulares ou mesmo um ProAC (Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo), já que Valinhos tem uma boa tradição com essa lei de incentivo estadual. Uma implantação piloto esteve programada para ser realizada no primeiro semestre de 2020 mas devido ao COVID-19, a implantação não foi realizada. Abaixo, um esboço de como seria o totem localizado na Matriz de São Sebastião.
5) Estudo de viabilidade e implantação de estacionamento próximo da Árvore Jequitibá. Em 2019, o famoso Jequitibá obteve 1298 votos, se tornando a 2ª Maravilha de Valinhos existente eleita durante o projeto desenvolvido pela APHV, na seleção e classificação das 14 Maravilhas de Valinhos. Existe um problema que essa espécie arbórea é um dos locais mais fotografados da cidade e muitas pessoas se arriscam na rodovia para poder tirar uma foto. Parece existir um local adequado para esta implantação, além de também poder ser estudado um projeto luminotécnico e instalação de placa informativa sobre o patrimônio.
6) Estudo de viabilidade e implantação de visitação ao Cristo, que está localizado próximo à antiga Fazenda Fonte Sônia num local apropriado a visitação e, posteriormente, em um local para fomentar o turismo. A construção de um mirante também poderia ser estudada diante da altitude do local. Uma licitação pública poderia destinar a abertura de um comércio no local e que tenha, como contrapartida, a zeladoria do local. Atualmente, o local tem sido visitado e é visível a depredação ao antigo patrimônio. Reforçamos que já houve uma morte no local.
7) Estudo de viabilidade e implantação de um caminho de pedestres até a antiga chaminé da cerâmica da família Spadaccia. Este local, que deverá ser objeto de estudo de tombamento pelo CONDEPAV, poderá se tornar um local para visitas turísticas e relacionadas ao patrimônio histórico. Um projeto luminotécnico também poderia ser desenvolvido, visto que esta instalação representa a antiga era das olarias e cerâmicas no município.
8) Estudar a remoção dos coqueiros que preenchem a fachada da plataforma da antiga Estação Ferroviária da Cia. Paulista de Estradas de Ferro, atual Museu Municipal. Sabe-se que essa vegetação, que não é original do complexo ferroviário, impede a visibilidade das pessoas que passam pela avenida dos imigrantes e ajudam a deixar o local mais escuro. O objetivo seria executar o remanejamento e plantá-los em outro local ou praças. Um novo projeto luminotécnico também poderia ser desenvolvido para toda a gare (plataforma da estação), vide a Estação Ferroviária da cidade de Louveira.
9) Proibir qualquer retirada de marcos inaugurais da cidade, principalmente aqueles localizados em praças públicas e obras de artes. Segue abaixo uma sugestão de instalação de novos marcos inaugurais e novas placas contendo informações de inaugurações obras/reformas quando já existe o antigo marco inaugural. Para exemplo, usamos a antiga praça dos “Três Poderes”, atual praça “Prefeito Jerônimo Alves Correa”. Como podemos observar, o antigo marco não está passando nenhuma informação, não existe mais a antiga placa de bronze. Ao lado, um novo marco de alvenaria foi adicionado após uma reforma na praça. A sugestão para este caso seria manter o marco original (pedra) e adicionar uma nova placa de alumínio com todas as ocorrências de manutenções ou atividades, inserindo no cabeçalho da placa, o evento de inauguração. Para os casos onde não existam os marcos inaugurais (nem pedra e nem alvenaria), providenciar um novo marco e tentar resgatar as informações históricas possíveis e concentrá-las numa única placa de alumínio.
10) Proteção do prédio remanescente da Primitiva Estação de Valinhos – marco inicial do surgimento do centro urbano de Valinhos.
O edifício remanescente da Primitiva Estação de Valinhos foi tombado pelo CONDEPHAAT como sendo parte do complexo ferroviário. A construção de 1872 foi a primeira e permanece sendo a mais antiga de Valinhos, só sendo superada pela sede de algumas fazendas. Mesmo após o tombamento, a construção tem sofrido intervenções irregulares pela família que ocupa o imóvel, cuja propriedade é do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT). Denúncias destas intervenções foram protocoladas pela APHV tanto no CONDEPHAAT quanto na Prefeitura Municipal de Valinhos sem nenhum resultado concreto. A solução definitiva para a preservação e recuperação do imóvel passa pela iniciativa do poder público municipal requerer a posse do imóvel junto ao governo federal com posterior remanejamento da família que o ocupa atualmente. O espaço tem potencial para se tornar uma atração histórica e cultural por ser a última construção remanescente do traçado inaugural da Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Poucas cidades no mundo tem a sorte de ainda possuir a edificação que originou seu povoamento, representando um fator importante no processo de revitalização do centro de Valinhos.
11) Digitalização dos arquivos da hemeroteca da Biblioteca Municipal.
A Biblioteca Municipal possui um rico acervo de reportagens de jornais que retratam eventos ocorridos nos últimos 40 anos em Valinhos. Esse acervo físico necessita ser digitalizado para garantir que o material não seja perdido e também para facilitar o acesso à informação.
12) Criação de um Centro de Informações Turísticas.
Valinhos possui atrações e potencial para um grande desenvolvimento do turismo tanto do público que reside na cidade quanto do público externo. É muito comum encontrarmos pessoas de fora pedindo informações sobre a cidade nos finais de semana, mas nenhuma estrutura por parte do poder municipal existe para suportar esta demanda. Um grande avanço neste sentido seria a criação de um centro de informações turísticas em uma sala do atual prédio que acomoda o Fundo Social (Prédio da antiga Prefeitura e também da antiga Câmara Municipal no largo São Sebastião).
13) Criação de uma galeria permanente para exibição e venda de obras dos artistas de Valinhos.
Como parte de um grande plano de revitalização do centro de Valinhos temos o eixo histórico que liga a Matriz de São Sebastião à Estação Ferroviária onde se encontra o Museu Municipal. A criação de um espaço de exposições e venda de obras de arte dos artistas locais no prédio do atual Procon teria grande impacto complementando o trabalho de artesanato que está sediado ao lado, no prédio do clube de mães (antiga cadeia pública). Este avanço poderia ser obtido através de uma parceria público privada onde o município seria responsável por ceder o espaço.
14) Restauração do edifício da Estação Ferroviária (atual Museu Municipal).
Uma das grandes conquistas para a cultura e preservação da história de Valinhos foi a criação em 1996 do Museu Municipal. Seu local não poderia ter sido melhor escolhido já que o centro urbano teve origem com a instalação da ferrovia no longínquo 1872. Mas, com quase 25 anos o prédio carece de manutenções mais profundas e de uma restauração completa para continuar abrigando o nosso museu. Devido ao alto custo esta restauração poderia ocorrer em etapas como a restauração das janelas originais de madeira que apresentam bastante desgaste. Um plano a longo prazo precisa ser estabelecido para este edifício.
15) Retorno das atividades do Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Cultural de Valinhos (CONDEPAV).
O CONDEPAV está com suas atividades suspensas por falta de paridade do poder público que não nomeia seus integrantes. É fundamental a reativação deste conselho para que haja um canal de comunicação do poder público com a sociedade civil nos assuntos que envolvem o patrimônio histórico de Valinhos.
16) Manutenção do espaço da Reserva Técnica do Museu Municipal.
Recentemente (no mês de setembro de 2020), tivemos a ampliação do espaço da reserva técnica do Museu Municipal numa parceria da APHV com a Secretaria de Cultura. Um espaço amplo e mais adequado foi criado no Centro Cultural Vicente Musselli (rua Itália) onde estão acondicionados o acervo de objetos excedente do museu, o acervo de filmes e negativos antigos do município, e as coleções de obras de arte do artista Catuí. A manutenção deste espaço é fundamental para o processo de pesquisa e digitalização dos acervos municipais, bem como para que possa haver uma reformulação do acervo exposto no museu. A APHV vem atuando desde sua criação em 2014 na busca de um espaço seguro e adequado para os acervos.
17) Estudo de viabilidade e implantação de parceria público privado (PPP), dos bens particulares tombados pelo CONDEPHAAT e CONDEPAV, de forma que, respeitando a propriedade privada, esses locais possam ser utilizados para eventos culturais, de forma que a renda proveniente destes eventos, sejam destinadas a manutenção e restauração do patrimônio histórico. Como exemplo, apresentamos o caso da Casa Modernista Flavio de Carvalho e o Clube de Campo Vale Verde. Este último, possui um espaço de 50.000 m2, e é capaz de receber diversos eventos culturais, capazes de financiar a manutenção e restauração do patrimônio histórico. A PPP deve ser firmada por prazo de no mínimo de 10 anos, a fim de permitir um planejamento a longo prazo.
18) Estudo de viabilidade e implantação de parceria público privada (PPP) com a Associação de Preservação Histórica de Valinhos (APHV) e a Secretaria da Cultura, para efetivação de projetos culturais, e colaboração de trabalhos referentes ao planejamento de preservação histórica municipal.
19) Museu a céu aberto e Ecomuseu.
Estudo de viabilidade de estabelecimento de uma política pública que incorpore à cidade de Valinhos as noções de Museu a céu aberto e Ecomuseu. Neste conceito, diversos patrimônios materiais e naturais da cidade incorporam a função social de um museu, como forma de incentivar a preservação histórica e natural do município. Ao assumir este conceito de museu enquanto política pública a cidade, além de garantir a preservação de seus patrimônios naturais, se insere em uma nova lógica de valorização de espaços abertos como forma de vivenciar a experiência museal frente a novas pandemias que possam vir a ocorrer. Nessa perspectiva diversos patrimônios materiais e naturais da cidade podem ser incorporados enquanto representantes da História de Valinhos, a saber:
Patrimônio Material: 1) Rede Ferroviária; 2) Chaminés (remanescentes) das antigas Cerâmicas; 3) Plantações de Figo e Goiaba; Fazenda do Candinho; 4) “Fazenda do Bob” (próxima a Itatiba e que preserva estruturas da antiga Fazenda de café).
Patrimônio Natural: 1) Ribeirão Pinheiros; 2) Serra dos Cocais (área de transição mata atlântica/cerrado); 3) Pedreira/Abismo (área de lazer/mirante); 4) Riachos e Córregos da cidade; 5) As diversas Áreas de Preservação Ambiental.
MARCEL TROMBETTA PAZINATTO
Presidente
LUIZ PAULO FERRARI ZANIVAN
Vice-Presidente
SÉRGIO LEANDRO FERRARI
Diretor Técnico