A MÃO DE OBRA NEGRA ESCRAVIZADA NA HISTÓRIA DE VALINHOS

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Jornal Correio Paulistano de 12 de Abril de 1874 (1)
Jornal Correio Paulistano de 12 de Abril de 1874 (1)

Pedro Luiz Stevolo – Graduado em Historia e Filosofia, Mestrando em História Social, Professor, Pesquisador e Associado APHV e Victor Fiori Augusto – Graduado em Filosofia. Mestre em Filosofia, Professor e pesquisador.

É sabido que as terras que constituem hoje o território de Valinhos-SP foram, ao longo do século XVIII e início do XIX, ocupadas por lavouras de cana de açúcar. Posteriormente, em meados do século XIX, transformaram-se em largas plantações de café. Segundo levantamento, Valinhos possuía aproximadamente 28 fazendas de café na virada do século XIX para o XX, cujos proprietários são constantemente lembrados pela historiografia local (SPADACCIA, 1988, p. 25)[1]. No entanto, poucas ou praticamente nenhuma linha foi escrita sobre aqueles que realmente trabalharam para a produção e desenvolvimento nos anos iniciais da cidade de Valinhos, ou seja, a mão de obra negra escravizada.
 
A tarefa de identificar seus nomes, origens e destino, após a Abolição da escravidão no dia 13 de maio de 1888 no Brasil, é um trabalho árduo enfrentado pela historiografia, pois, além de serem entregues à própria sorte depois de libertos, houve por aqui a ordem de “(…) incineração de todos os documentos – inclusive registros estatísticos, demográficos, financeiros, e assim por diante – pertinentes à escravidão, ao tráfico negreiro e aos africanos escravizados” (NASCIMENTO, 2016, p. 93)[2], por parte do ministro das Finanças Rui Barbosa em 1899.
 
No caso da História de Valinhos não foi diferente, pois as parcas informações que encontramos referentes a estes seres humanos explorados são as dos jornais do período, nos quais figuram apenas como propriedade de pessoas que buscavam sua captura após fugas em busca de liberdade. Ou mesmo como transportadores de outros humanos, conforme afirmou Mário Pires: “Os dois velhos valinhenses, Hygino Guilherme Costato e João Tiene contaram-nos de sua lembrança do lamaçal que circundava a estação da Paulista e que, em dias de chuva, as crianças e as mulheres eram transportadas de um lado para o outro nos ombros dos pretos” (PIRES, 1978, p. 50)[3].
 
Conjuntamente a esta lacuna na historiografia da cidade, e devido a ela, pode-se observar a consolidação de uma imagem sobre Valinhos que tende a enfatizar somente a importância do trabalho dos imigrantes italianos, sem reconhecer a contribuição decisiva do trabalho da população negra escravizada no desenvolvimento da região. De acordo com a historiografia local, “Valinhos, no último quarto do século passado [i.e., século XIX] era invadido por milhões (sic) de imigrantes italianos que vieram substituir os negros nas lavouras de café”. Destaca-se ainda “a valorosa cooperação do braço italiano que não apenas salvou o café, como ainda introduziu no campo, processos mais racionais”, e afirma-se que foram os imigrantes italianos que “nos socorreram no instante dramático em que o negro libertado desertava da lavoura (SPADACCIA, 1988, p. 74)[4]. 
 
Cabe, portanto, a árdua tarefa de reconstituir esta história “apagada” da cidade, daqueles responsáveis por dar corpo ao território, por meio de sangue, suor e das próprias vidas.
 
[1] SPADACCIA, José. Monografia histórica de Valinhos, 1988.
[2] Trata-se do livro: O genocídio do negro brasileiro: processo de um racismo mascarado, de Abdias do Nascimento (São Paulo: Perspectiva, 2016).
[3] PIRES, Mário. Valinhos: tempo e espaço. Campinas-SP: Academia Campinense de Letras, 1978.
[4] SPADACCIA, José. Monografia histórica de Valinhos, 1988.
 
Sugestão de leitura sobre a escravidão na Região Metropolitana de Campinas:
 
ALVES, Maíra Chinelatto. Cativeiros e conflito: crimes e comunidades escravas em Campinas (1850-1888). Tese de Doutorado do Programa de Pós Graduação em História Social da FFLCH da Universidade de São Paulo, 2015.
 
MACIEL, Cleber da Silva. Discriminações raciais: negros em Campinas (1888-1926) – alguns aspectos. Dissertação de Mestrado do Departamento de História do IFCH da UNICAMP, 1985.
 
PIROLA, Ricardo Figueiredo. Senzala insurgente. Malungos, parentes e rebeldes nas fazendas de Campinas (1832). Campinas, Editora da UNICAMP, 2011.
 
__________________. A conspiração escrava de Campinas, 1832: rebelião, etnicidade e família. Dissertação de Mestrado do Departamento de História do IFCH da UNICAMP, 2005.
 
SILVA. Áurea Pereira da. Engenhos e fazendas de café em Campinas (séc. XVIII- séc. XX). In: Anais do Museu Paulista. São Paulo. N. Sér. v.14. n.1. p. 81-119. jan.- jun. 2006.
 
XAVIER,  Regina Célia Lima. A conquista da liberdade. Libertos em Campinas na segunda metade do século XIX. Campinas, CMU/Unicamp, 1996.     

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