CAFÉ EM VALINHOS: FAZENDA SÃO BENTO

Bryan Gouveia – Graduando em Administração Pública, Pesquisador e Associado APHV / Ulisses Porto – Advogado, Pós-graduado em Direito Empresarial, Jornalista, Fotojornalista, Documentarista, Jurista, Pesquisador e Associado APHV / Pedro Luiz Stevolo – Graduado em História, Filosofia e Mestrando em História Social, Professor, Pesquisador e Associado APHV.

O texto “Café em Valinhos: Fazenda São Bento” é o primeiro de uma série de produções que tem como objetivo trazer luz à história das grandes propriedades rurais que formaram o município de Valinhos, através de breves resumos históricos, imagens e fotografias. Essa é uma iniciativa dos pesquisadores e membros da Associação de Preservação Histórica de Valinhos: Bryan Gouveia e Ulisses Porto. O texto a seguir foi revisado por Pedro Luiz Stevolo.

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A Fazenda São Bento foi uma grande propriedade rural produtora de café, localizada no interior do estado de São Paulo cujo solar, sede da antiga fazenda, fica situado no município de Valinhos, Km 82 da Rodovia Anhanguera, no que hoje é o Clube de Campo Vale Verde. Em 2004, o antigo casarão foi tombado pelo CONDEPHAAT (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo) e atualmente se encontra fechado para visitações.

De acordo com os dados que dispomos, a Fazenda São Bento já existia por volta da década de 50 do século XIX e era chamada também de Fazenda São Bento do Cacutá, por conta do apelido de seu proprietário e morador mais lembrado, Joaquim Egidio de Sousa Aranha (CONDEPHAAT, 1999, p. 3) [1], que também foi proprietário da Fazenda Pinheiros, em Valinhos-SP, segundo Celso Maria de Mello Pupo (PUPO, 1983, p. 188) [2].

De acordo com as informações do processo de tombamento do solar, sede da Fazenda São Bento, (CONDEPHAAT, 1999) [1], a centenária fazenda de café teve como proprietários:

• Joaquim Egidio de Sousa Aranha (1850);
• José Egidio de Queiroz Aranha (em 1935 passou a pertencer a sua filha);
• Antônio Bento Ferraz (1940).

A respeito da vida do mais conhecido proprietário e morador da Fazenda São Bento, Joaquim Egidio de Sousa Aranha, sabe-se que nasceu na cidade de Campinas, em 1821, vindo a falecer na cidade de São Paulo em 1893, aos 72 anos de idade, deixando uma fortuna estimada em 18 bilhões de cruzados. Era filho de Francisco Egidio de Sousa Aranha e da Viscondessa de Campinas Maria Luzia de Sousa Aranha. E foi casado com Ana Francisca de Pontes, de 1842 até 1875 e, posteriormente, com Maria Hipólita dos Santos Silva, de 1876 até 1894, tendo tido três filhos (VILLAGELIN, 1927, p. 5) [4].

O imponente solar, sede da Fazenda São Bento, foi erguido ainda enquanto Joaquim Egidio era proprietário da fazenda. O antigo “casarão”, foi tombado por ser um exemplar da arquitetura rural típica do século XIX e está diretamente relacionado à expansão cafeeira no estado de São Paulo e também às primeiras ocupações coloniais em território valinhense, o que se preserva em sua planta, articulação dos ambientes, técnicas e materiais de construção empregados na edificação (CONDEPHAAT, 1999, p. 96) [1]. Segundo relatos, foi Von Zuben, vizinho de Joaquim Egidio, que se encarregou da construção do solar, que receberia inúmeros encontros de personalidades da província, erguido entre 1860 e 1865 com uso de mão de obra escravizada. (CONDEPHAAT, 1999, p. 4) [1].

Segundo dados dos Livros de Registro de Meia Sisa da Coletoria de Rendas de Campinas, Joaquim Egidio de Sousa Aranha, comprou, entre os anos de 1850 e 1879, 51 escravos (OLIVEIRA, 2013, p. 92) [7]. Dessa forma, percebe-se que Joaquim Egidio seguiu à risca o antigo método de “enriquecimento” da família Sousa Aranha, investindo na compra de pessoas escravizadas para utilizá-las nas lavouras de cana-de-açúcar e café (OLIVEIRA, 2013) [7].

Por fim, tem-se que alguns descendentes de Joaquim Egidio, moraram na Fazenda São Bento até 1960, não mais produzindo café, em decorrência da crise de 1929 (CONDEPHAAT, 1999, p. 328) [1], mas produzindo gado leiteiro e cuidando da manutenção e conservação do solar, antiga sede da fazenda. Em 1981, a fazenda se torna um loteamento de chácaras (CONDEPHAAT, 1999, p. 239) [1], e o solar é doado ao Clube de Campo Vale Verde, por Elza de Salles França Ferraz, com o propósito de destinar-se ao uso de seus sócios (CONDEPHAAT, 1999, p. 328) [1]. Além de abrigar a antiga sede da fazenda, o Clube de Campo Vale Verde preserva um projeto paisagístico da década de 70, elaborado pelo artista plástico e paisagista brasileiro, Roberto Burle Marx¹ (CONDEPHAAT, 1999, p. 209) [1].

NOTAS

¹ Roberto Burle Marx (1909-1994) foi um importante artista plástico e paisagista brasileiro, reconhecido internacionalmente como um dos principais paisagistas do século XX. Seu nome pode ser confundido com o de Karl Marx, primo de seu avô paterno. Foi intitulado pelo American Institute of Architects (Instituto dos Arquitetos Americanos) como “o verdadeiro criador do jardim moderno” [8].

REFERÊNCIAS

[1]        CONSELHO DE DEFESA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO, ARQUEOLÓGICO, ARTÍSTICO E TURÍSTICO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Processo Nº 38716: Estudo de tombamento do Solar da antiga Fazenda São Bento do Cacutá, situada no Município de Valinhos. São Paulo, 1999. 432 p.

[2]        PUPO, Celso Maria de Mello. Campinas, município no Império: fundação e constituição, usos familiares, a morada, sesmarias, engenhos e fazendas. São Paulo: Imprensa Oficial, 1983. 231 p.

[3]        PRÓ-MEMÓRIA DE CAMPINAS-SP (Campinas). Personagem: marques de três rios. Marques de Três Rios. 2006. Disponível em: http://pro-memoria-de-campinas-sp.blogspot.com/2006/12/personagem-marques-de-trs-rios.html. Acesso em: 15 jan. 2023.

[4]        VILLAGELIN, Arthur Nazareno Pereira. Logradouros de Campinas: Rua Marquês de Três Pisos. 1927. Disponível em: https://atom.cmu.unicamp.br/index.php/rua-marques-de-tres-pisos. Acesso em: 16 jan. 2023.

[5]       VALINHOS, Associação de Preservação Histórica de. AS 14 MARAVILHAS DE VALINHOS: Fazenda São Bento do Cacutá (Clube de Campo Vale Verde). FAZENDA SÃO BENTO DO CACUTÁ (CLUBE DE CAMPO VALE VERDE). 2019. Disponível em: https://www.historiavalinhos.com.br/candidatas. Acesso em: 20 jan. 2023.

[6]        Crédito da fotografia original do quadro: Clube de Campo Vale Verde.

[7]        OLIVEIRA, Joice Fernanda de Souza. Forasteiros no oeste paulista: escravos no comércio interno de cativos e suas experiências em Campinas, 1850-1888. SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, v. 27, 2013.

[8]        BURLE MARX – ESCRITÓRIO DE PAISAGISMO (Brasil). Memória: roberto burle marx. Roberto Burle Marx. Disponível em: http://www.burlemarx.com.br/memoria. Acesso em: 22 jan. 2023.

[9]          MIGUEL SALLES ESCRITÓRIO DE ARTES (Petrópolis). MARQUES DE TRÊS RIOS. Disponível em: https://www.miguelsalles.com.br/peca.asp?ID=662125. Acesso em: 27 jan. 2023.

[10] Acervo pessoal de Ulisses do Porto Salvador.

[11] Acervo pessoal de Bryan Rodrigues Gouveia.

[12] RITTES, José Alcindo. Cafeeiros da Fazenda “São Bento”, em Valinhos, plantados em curvas de nível e protegidos com cordões de contorno, de propriedade do sr. Antônio Bento Ferraz, que se vê na foto juntamente com o sr. João Pacheco e Chaves. São Paulo, novembro de 1955.