DESCOBERTA ARQUEOLÓGICA: MOEDA DE 1722 REVELA TESOURO HISTÓRICO EM FAZENDA DE VALINHOS

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Moeda encontrada em fazenda. Fonte: APHV
Moeda encontrada em fazenda. Fonte: APHV
No dia 16 de fevereiro de 2024, a Associação de Preservação Histórica de Valinhos recebeu a doação de uma moeda de 1722, encontrada na Fazenda São João das Pedras, uma propriedade particular, em Valinhos. Trata-se do item histórico mais antigo encontrado na cidade até o momento em que se tem conhecimento, que integrará o acervo da associação e, posteriormente, será transferido para o museu municipal que se encontra em processo de reforma e institucionalização.
A moeda, que estava enterrada, foi encontrada pelo administrador da fazenda e tem 302 anos. Para efeitos de comparação, o prédio da primeira estação ferroviária de Valinhos, localizado na Rua Sete de Setembro, uma das estruturas mais antigas ainda de pé em Valinhos, tem 152 anos, enquanto o próprio município de Valinhos tem 128 anos. Dessa forma, essa moeda remonta aos tempos em que Alexandre Simões Vieira teria ganhado a sesmaria do Ribeirão Pinheiro em 1732 e instalado o antigo pouso que ficaria localizado na região do bairro Capuava, conforme relata Mario Pires no livro “Valinhos: Tempo e Espaço“.

 

Quadro antigo da Fazenda São João das Pedras antes da reforma da década de 1980. Fonte: Acervo particular da família
Quadro antigo da Fazenda São João das Pedras antes da reforma da década de 1980. Fonte: Acervo particular da família
De acordo com o pesquisador Allan Pietri, membro da associação, genealogista e numismata, a moeda foi cunhada em Lisboa, Portugal, em 1722. Esta moeda colonial de cobre foi originalmente cunhada para circulação na região de Minas Gerais, sendo a única moeda de valor “XL” cunhada por D. João V. A Capitania de Minas Gerais foi criada em 12 de setembro de 1720 a partir da divisão da Capitania de São Paulo e Minas do Ouro, tendo sua capital em Vila Rica (atual Ouro Preto). Allan destaca que, além desta moeda, existiam moedas com valores monetários muito superiores, como as de ouro e prata.
Segundo Bryan Gouveia, pesquisador e diretor Social da APHV, responsável por localizar o doador da moeda, o fato de ter sido encontrada na região da Serra dos Cocais aponta que, durante o início do século XVIII, a região da Estrada da Jequitibá muito provavelmente já era ocupada pelos colonizadores portugueses, os quais possivelmente exploravam a mão de obra escrava indígena e africana, conforme corroboram as descobertas feitas por Bryan de dois possíveis cemitérios: um seria dos escravizados da Fazenda Espírito Santo e outro, um cemitério indígena no Parque Valinhos, ambos notificados ao IPHAN (processo número 01506.000021/2024-82). Essas descobertas aumentam ainda mais a importância da região da Serra dos Cocais, que guarda a história das primeiras ocupações humanas na região.

 

Possível cemitério indígena localizado no Parque Valinhos, 2023. Fonte: APHV
Possível cemitério indígena localizado no Parque Valinhos, 2023. Fonte: APHV

“A simples descoberta de uma moeda não carrega grande relevância por si só. O que verdadeiramente importa é o que podemos inferir sobre a dinâmica social e econômica da época na região. Por meio dessa descoberta, aliada à possível identificação de cemitérios indígenas e de pessoas negras escravizadas, por exemplo, podemos compreender que o território de Valinhos foi profundamente influenciado pelo processo de colonização portuguesa, possivelmente mais do que se poderia imaginar, especialmente no que diz respeito à dinâmica territorial e à exploração da população negra e indígena. Dessa forma, podemos enxergar a história de Valinhos de uma perspectiva muito mais abrangente e diversificada, pois a história do município não se resume apenas história urbana no século XX.” , completa Bryan.

Bryan Gouveia, pesquisador e diretor social da APHV, mostra moeda encontrada – Foto: APHV / Divulgação
Bryan Gouveia, pesquisador e diretor social da APHV, mostra moeda encontrada – Foto: APHV / Divulgação
Todas essas descobertas são desdobramentos do projeto “Café em Valinhos“, idealizado por Bryan Gouveia e Ulisses Porto. Segundo a pesquisa realizada pelos membros da APHV que lideram o projeto, a Fazenda São João das Pedras teve como proprietário mais conhecido Honório Fernandes Monteiro (1894-1968) , que foi deputado da Assembleia Nacional Constituinte em 1945, ocupando posteriormente a presidência da Câmara dos Deputados; em outubro de 1948, foi nomeado Ministro do Trabalho do Governo Gaspar Dutra. No entanto, antes de se tornar proprietário da fazenda, esta já existia. A propriedade é uma das fazendas oitocentistas mais relevantes de Valinhos e foi uma grande produtora de café. De acordo com os pesquisadores, ainda é possível encontrar na fazenda algumas antigas estruturas que resistiram ao tempo, como a antiga casa-sede e o terreiro de café.
O projeto “Café em Valinhos” já publicou três artigos que podem ser acessados através das nossas publicações: https://historiavalinhos.com.br/publicacoes/. Em breve, será publicado um artigo inédito sobre a Fazenda São João das Pedras e a descoberta da moeda.

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