FAMÍLIA CAPELLATO E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA O TRANSPORTE COLETIVO EM VALINHOS

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Família Capellato em sua casa na Avenida Independência em Valinhos – anos 40
Família Capellato em sua casa na Avenida Independência em Valinhos – anos 40

Allan Douglas Pietri – Genealogista, Pesquisador e Associado APHV 

 

Introdução

A história da família Capellato está intrinsecamente ligada ao transporte coletivo na região de Valinhos, inicialmente com as icónicas Jardineiras e mais tarde com os Ônibus.  A família se estabeleceu na cidade no início do século XX, e deixou um legado duradouro através da fundação da Empresa Capelato, mais tarde Empresa de Ônibus Capelato. Esta empresa, estabelecida na década de 1920, desempenhou um papel importante ao transportar os valinhenses a Campinas por meio da  Estrada Velha de Campinas, e oferecer transporte para viagens turísticas para outras cidades.

Este estudo genealógico busca explorar brevemente a história desta família, traçando a jornada desde seu patriarca o imigrante italiano Ângelo Capellato até seus descendentes e o empreendimento que ajudaram a moldar. Ao mergulhar nas origens e nas realizações da família Capellato, visamos lançar luz sobre a importância de sua contribuição para a cidade, além de destacar sua influência na evolução do transporte coletivo local.

 

Os Cappello na Itália

Era uma sexta-feira, 17 de setembro de 1869, quando às nove da noite nasceu uma criança, segundo filho de Domenico Cappello e Teresa Lazzarin; ele foi batizado dois dias depois com o nome de Angelo na igreja de Santa Maria Assunta di Solesino.

A família Cappello, apelidada de Pasotto, era originária de Solesino e Stanghella, na província de Pádua; o chefe da família Domenico era carroceiro e sua esposa agricultora, casados em Solesino em fevereiro de 1867, tiveram seu primeiro filho em 1868, que morreu poucos minutos após o nascimento devido a complicações durante o parto, e como não foi possível batizá-lo e dar-lhe um nome, ele não foi registrado no livro de batismo, mas apenas no livro de óbitos, nasceram depois: Angelo em 1869, Pietro em 1871, Amabile em 1873, que morreu 20 dias após o nascimento. A família era de origem muito humilde, provavelmente por isso mudava muitas vezes de comune, dependendo de onde encontrasse novas oportunidades de trabalho, e em uma dessas ocasiões, em 1874, mudou-se para Ponso, também na província de Pádua, onde permaneceu por 6 anos.

Em Ponso tiveram os filhos: Giulia (1874), nascida morta, Maria Luigia (1875), e Amália (1878)

No inverno de 1881, Domenico morreu subitamente de uma doença cardíaca aos 36 anos; sua esposa Teresa, estando grávida, retornou com seus filhos ao comune de origem onde deu à luz a Teresa (1881), última filha do casal, a quem todos chamavam de Domenica em homenagem ao falecido pai.

Infelizmente as tragédias não acabaram para a família Cappello, em 1884, Amalia morreu em Stanghella aos 5 anos de idade de difteria.

De seus filhos, apenas 4 atingiram a idade adulta: Ângelo, Pietro, Maria Lugia e Teresa

Sabemos pouco dos eventos que ocorreram nos sete anos seguintes a esses eventos. Em julho de 1891, seu segundo filho, Angelo, casou-se com Carolina Bassan, originária de Stanghella; os dois jovens provavelmente se conheceram em Solesino ou Stanghella e dois anos depois, em maio de 1893, seu primeiro filho Vittorio nasceu em Stanghella.

Os quatro irmãos Cappello: Angelo (1869-1951), Pietro (1871-1955), Maria Luigia (1875-1951) e Teresa (1881-1962)
Os quatro irmãos Cappello: Angelo (1869-1951), Pietro (1871-1955), Maria Luigia (1875-1951) e Teresa (1881-1962)

Uma nova vida no Brasil

Foi em 1895 que Ângelo tomou a decisão que mudaria sua vida para sempre, a de emigrar para o Brasil.

 

Em 11 de maio de 1895 chegaram ao Brasil a bordo do navio San Gottardo:

  • Ângelo, 25 anos, chefe da família
  • Carolina, 23 anos, sua esposa
  • Vittorio, 2 anos, seu filho
  • Luigia, 28 anos, sua cunhada

 

Eles se estabeleceram em Campinas, no interior de São Paulo, para trabalhar nas fazendas como colonos; lá o casal teve três filhos, Antonio em 1897, João em 1899 e Domingos em 1901 e depois a família mudou-se para Valinhos.

Valinhos

Foi em Valinhos que a família iria residir a partir de 1903, e foi ali que nasceram os seus 3 últimos filhos: Natale em 1903, Emma em 1905 e Amélia em 1913.

Pensa-se que foi em Valinhos, durante a primeira década de 1900, que o sobrenome de Angelo mudou de Cappello para Capellato; até hoje a família não sabe o real motivo da mudança, mas acredita que foi um erro na transcrição dos documentos. A partir desse momento, Ângelo passou a ser conhecido e chamado por todos de Ângelo Capellato, sobrenome mantido por todos os descendentes até hoje e presente também com as variantes Capelatto e Capelato. Ângelo começou a trabalhar na cidade como agricultor e leiteiro e com suas economias, novamente nesse período, comprou um terreno, onde iniciou seu primeiro negócio, uma olaria.

Na década de 1920 comprou um caminhão, passou a transportar trabalhadores e suas ferramentas de Valinhos para Campinas, e vice-versa, e na mesma década comprou uma Jardineira, as Jardineiras, construídas com motor de caminhão, foram os primeiros modelos de ” ônibus ” a circular no Brasil; após esta última compra fundou a “Empresa Capelato” mais tarde conhecida como “Empresa de Onibus Capelato”.

Um dos primeiros veículos da Capelato no fim da década de 20
Um dos primeiros veículos da Capelato no fim da década de 20

 

Dois veículos da Capelato nos anos 50
Dois veículos da Capelato nos anos 50

O começo foi difícil; De acordo com os relatos da família, de fato, devido à guerra, na década de 40 esses veículos eram movidos a Gasogênio, produto obtido a partir da combustão de madeira queimada, mas depois com muito esforço e ajuda dos filhos a empresa cresceu, no início com um veículo, depois com dois, chegando a ter vários. A rota das jardineiras era a antiga estrada de Campinas e os Valinhenses que tinham que estudar, ir para o hospital, ou ir trabalhar em Campinas, faziam o percurso com esses veículos; ainda hoje muitos se lembram das antigas “jardineiras do Capelato”. Com o passar do tempo, e com a chegada de ônibus grandes no Brasil, a Capelato substituiu sua frota por esses ônibus, fazendo várias linhas pelas cidades e bairros de Valinhos, Campinas, Louveira, Vinhedo, Joaquim Egídio e Souzas.

Documento da Empresa de Ônibus Capelato Ltda – 1959
Documento da Empresa de Ônibus Capelato Ltda – 1959

 

Os últimos anos

Ângelo era um homem rigoroso, mas justo, muito carinhoso com os netos, que diziam que quando os via, sempre tirava uma moeda do bolso e dava para comprarem doces. Ele tinha um bigode muito longo, do qual muito se orgulhava e que era a sua característica mais notável, não permitindo que ninguém o cortasse.

Viúvo desde 1938, nos últimos anos de sua vida, era costume encontrá-lo sentado na cadeira de balanço no quintal de sua casa. Faleceu em 7 de dezembro de 1951, em sua casa na Avenida Independência em Valinhos.

Quadro de Ângelo Capellato – anos 30/40
Quadro de Ângelo Capellato – anos 30/40

Legado

Por anos os Capellato transportaram os Valinhenses, fazendo parte de sua história e de muitos da cidade; ainda hoje os seus netos e bisnetos continuam a atividade iniciada por Ângelo.

Os 7 filhos de Ângelo Capellato e Carolina Bassan : Vittorio (1893-1974), Antonio (1897-1969), João (1899-1976), Domingos (1901-1969), Natale (1903-1964), Emma (1905-1982) e Amélia (1913-1989)
Os 7 filhos de Ângelo Capellato e Carolina Bassan : Vittorio (1893-1974), Antonio (1897-1969), João (1899-1976), Domingos (1901-1969), Natale (1903-1964), Emma (1905-1982) e Amélia (1913-1989)

Em Valinhos, há uma rua chamada “Rua Ângelo Capellato” e também outras ruas que levam nomes de filhos, netos e bisnetos em homenagem ao trabalho de Ângelo e seus descendentes.

Placa da Rua Ângelo Capellato em Valinhos
Placa da Rua Ângelo Capellato em Valinhos

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